A tentativa de manipulação das opiniões pública e publicada não é uma ciência nova. Sempre houve tentativas do género e sempre haverá. Os blogues e as redes sociais são apenas mais dois dos muitos instrumentos que podem ser utilizados para esse fim. E não tenhamos ilusões: eles são mesmo.
O que me preocupa na entrevista ao Fernando Moreira de Sá, publicada ontem na Visão, não é a admissão de que um grupo ligado a Pedro Passos Coelho o ajudou, através dos blogues e redes sociais, a ganhar o PSD e, mais tarde o País. Isso faz parte do jogo. Há apoiantes e adversários. Os primeiros promovem e defendem o seu candidato. Os segundos combatem-no. Até acho louvável que o tenham feito abertamente, sem ser a coberto do anonimato que tanto jeito dá a alguns.
O que me preocupa é outra coisa. É a possibilidade de jornalistas no activo estarem a servir-se da sua profissão para promover o político que apoiam – e têm todo o direito de apoiar – enquanto cidadãos. E foi isso que ficou subentendido na entrevista quando Fernando Moreira de Sá referiu três nomes em concreto: Pedro Correia, Luís Naves e Francisco Almeida Leite, todos do Diário de Notícias. Com a vitória do PSD, os três acabaram – em momentos diferentes – por ir “trabalhar para o governo” que alegadamente ajudaram a eleger. A partir daqui é muito fácil embarcar na teoria de que, enquanto jornalistas, estavam ao serviço de Pedro Passos Coelho.
Pessoalmente não tenho nada contra jornalistas que se tornam assessores. Pelo contrário. É tão legítimo como um advogado tornar-se jornalista. Reconheço até que a passagem por um cargo no governo pode habilitar um jornalista a ser um melhor profissional se decidir um dia regressar a uma redacção. Mas também tem consequências. Desde logo sujeita-o a um maior escrutínio por parte da classe e a um grau de incompatibilidade que o deve impedir de tratar de determinadas matérias. Pelo menos durante algum tempo. Depois das duas uma: ou o trabalho reflecte competência e imparcialidade ou não.
Não conheço nenhum dos três. Correcção, falei pessoalmente com o Pedro Correia por alguns minutos durante uma visita de trabalho à Presidência do Conselho de Ministros. E conversei com Francisco Almeida Leite ao telefone. Sei que nenhum voltou à redacção do Diário de Notícias depois de deixar o governo. Sei que, pelo menos, o Luís Naves e o Pedro Correia mantém a sua actividade como bloggers e sentiram a necessidade de defender o seu nome. Fizeram-no aqui e aqui.
Ambos dizem que defendiam apenas as suas ideias e que nunca estiveram ao serviço de ninguém. Admito que sim. Não sei se Francisco Almeida Leite tomou alguma posição. No entanto, no caso dele, há muito que é apontada a sua proximidade ao PSD. Justa ou injusta, não importa. A suspeição que já existe em torno da promiscuidade entre políticos e alguns jornalistas é suficiente para esta classificação se lhes colar à pele. E isso é mau para o jornalismo. É tudo o que me importa nesta discussão.
Os jornalista têm militancia como qualquer um e com todo o direito. Que se peça responsabilidade a direcção do meio informativo de não esclarecer o leitor de que tipo é o trabalho apresentado acho muito bem,para defesa da transparencia e seriedade -o maior bem que procuro num meio jornalistico profissional e que já não posso exigir a um bloguer ou meio informativo militante. Se cada macaco estiver no galho certo a selva é um lugar seguro.
relativamente á “militância jornalística”, deixo uma troca entre dois grandes: http://www.nytimes.com/2013/10/28/opinion/a-conversation-in-lieu-of-a-column.html
pessoalmente, desde que transparente, tanto me faz
São coisas diferentes. Uma é o activismo político conhecido de figuras individuais – como são o caso de Glenn Greenwald e Rafael Marques, por exemplo. Outra é o alinhamento editorial de um órgão de comunicação à direita ou à esquerda, como há em muitos países. Outra ainda, e é dessa que estava a falar, é a utilização por parte de jornalistas do seu trabalho (sob o manto da imparcialidade) para promover alguém.